Tímidos no jogo da sedução
Pesquisa mostra que homens e mulheres preferem os extrovertidos na hora de se relacionar
"A pessoa tímida não tem confiança.
É como se a gente já soubesse que vai levar um não"
Somos tímidos expectadores onde deveríamos ser ágeis atores...
Augusto Cury
A conquista do ser amado é, para os tímidos, motivo de grande sofrimento. Diante do obstáculo da introversão, o alvo da paixão parece mesmo inalcançável. A triste verdade é que o tímido tem boa dose de razão: uma pesquisa realizada com exclusividade para ISTOÉ pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa Social com 200 pessoas revela que a maioria delas vê no comportamento excessivamente reservado um grande empecilho ao relacionamento amoroso. Segundo o levantamento, 74% das entrevistadas acham que o fato de o homem ser introvertido "pesa negativamente" ou "impossibilita o relacionamento".
A recíproca é verdadeira: os homens também não lidam bem com as mulheres retraídas, embora o percentual de rejeição seja menor – 52%. "Com os tímidos, a mulher acaba tendo que tomar a iniciativa de tudo", diz a modelo carioca Bianca Castilho, 25 anos. "Estamos sempre em dúvida se eles realmente estão a fim ou não." Na dúvida, Bianca – assim como a maioria das mulheres – prefere um homem mais extrovertido.
PREFERÊNCIA Para Bianca, o problema é nunca saber se o tímido está interessado
A preferência por perfis mais destemidos e confiantes é universal A época atual impõe o padrão segundo o qual as pessoas alegres e bem humoradas representam o sucesso e são cortejadas. Enquanto isso, as mais recatadas abarrotam consultórios psicanalíticos e se tratam com remédios reguladores de humor.
Os extrovertidos são preferidos por elas e a explicação dessa escolha passa pela emancipação feminina. Depois do furor libertário de décadas atrás, em que muitas mulheres queriam ficar à frente de tudo – inclusive das conquistas amorosas – , chegou-se ao equilíbrio. "Hoje, a mulher dá sinal de que está interessada no homem, mas o passo seguinte tem que ser dado por ele", afirma a psicanalista Ana Celi Huguet. "Quando ele não se posiciona, ela desiste", acredita.
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Os jovens que não conseguem superar a própria timidez amargam essas desistências. É assim com o comerciante de informática Marcos Tadeu de Moura Júnior, 27 anos, que admite ter perdido várias oportunidades de relacionamento pela falta de iniciativa – enquanto os amigos mais falantes colecionam conquistas. "A pessoa tímida não tem autoconfiança, é como se a gente já soubesse de saída que vai levar um não", diz Moura. Forma-se, então, um círculo vicioso: ele não acredita que vá conseguir conquistar a moça e não se expõe. Por não se arriscar, acaba se tornando menos atraente para as mulheres, e aí é que não conquista mesmo. Assim, a profecia pessimista se concretiza.
Segundo a pesquisa, 74% dos homens e mulheres classificaram o fato de a pessoa ser extrovertida como algo que é fundamental ou pesa positivamente para um relacionamento amoroso. Mas isso não quer dizer que os fanfarrões estão em alta: os entrevistados citaram também como principais características de comportamento para um pretendente a educação (10%) e a simpatia (9%).
Apesar das dificuldades, muitos tímidos conseguem driblar o problema com estratégias criativas. No caso de José Miguel, os relacionamentos amorosos acontecem com mulheres que ficam próximas a ele por mais tempo. "É mais fácil namorar alguém que conheço no trabalho, por exemplo. Tenho mais tempo para me mostrar, não é preciso correr riscos", explica. A dificuldade de relacionamento com o sexo oposto é o principal motivo para os tímidos procurarem ajuda psicológica. Jaqueline, no entanto, faz um alerta. "Assim como introversão demais isola as pessoas, extroversão em demasia também pode causar o mesmo problema." A questão, afinal, não é ficar sonhando com o inalcançável comportamento ideal, mas encontrar equilíbrio.
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